Viradouro é a campeã do carnaval 2024 e conquista o 3º título da história com enredo sobre serpente mítica
A agremiação Unidos da Viradouro foi consagrada como a vencedora do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024. Neste ano, em que a Marquês de Sapucaí celebra seu 40º aniversário, a Viradouro obteve a melhor pontuação entre as 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro: 270 pontos. Este foi o terceiro título conquistado pela escola, sendo o último em 2020.
A Unidos da Viradouro se consagrou como a grande campeã do Carnaval carioca de 2024! A agremiação de Niterói apresentou em seu desfile as serpentes, que são veneradas na tradição africana. Com o enredo “Arroboboi, Dangbê”, a escola exaltou a proteção da grande cobra mítica.
De acordo com várias tradições de crenças, como a da nação jeje, o réptil é associado a poderes de regeneração, vida, transformação e renovação.
A Viradouro, que foi a última escola a se apresentar entre as 12, na manhã da terça-feira (13), também abordou as crenças dos voduns dos povos africanos e a força das mulheres da Costa da Mina, uma poderosa irmandade de guerreiras.
Essas guardiãs foram as protagonistas do filme “A mulher-rei”, estrelado por Viola Davis.
“Meu objetivo era conquistar 3 títulos em 10 anos, pelo menos. Já ganhamos dois e no próximo ano podemos buscar o terceiro. Na presidência, manteremos o mesmo empenho. Queremos evoluir cada vez mais. Sabemos que ninguém é perfeito, mas seguiremos trabalhando para nos mantermos no topo e conquistar mais títulos”, declarou o presidente da escola, Marcelo Kalil, ao chegar com o troféu na quadra.
Neste ano, houve uma certa tensão em relação ao resultado final, mesmo antes da divulgação das notas. No início da apuração, Jorge Perlingeiro, presidente da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), organizadora do Grupo Especial, informou que estava em análise um recurso apresentado por Grande Rio, Imperatriz, Mocidade e Beija-Flor contra a Viradouro. Elas solicitaram que a escola fosse penalizada com a perda de 0,5 ponto devido a uma irregularidade na comissão de frente. Alegaram que o limite de 15 integrantes visíveis durante a apresentação foi ultrapassado. No entanto, como a Viradouro ficou 0,7 ponto à frente da segunda colocada, mesmo se o recurso for aceito, não poderá tirar o título da escola.
Com um samba que homenageia o culto ao vodum serpente, originário da costa ocidental da África, a Viradouro encerrou os desfiles na Sapucaí na segunda-feira (12), segundo dia de apresentações. As cinco mais bem colocadas após ela foram: Imperatriz Leopoldinense, Grande Rio, Salgueiro, Portela e Vila Isabel. Estas se juntarão à Viradouro no Desfile das Campeãs, que ocorrerá no Sambódromo no próximo sábado (17). Com 264,9 pontos, a Porto da Pedra foi rebaixada e competirá na Série Ouro em 2025.
Na competição, os critérios foram avaliados na seguinte ordem: Alegorias e adereços, Bateria, Evolução, Mestre-sala e porta-bandeira, Comissão de frente, Enredo, Harmonia, Samba-enredo e Fantasias. Em caso de empate, o desempate seria decidido através do sorteio das Fantasias, realizado horas antes da apuração. Pela primeira vez, a apuração aconteceu na Cidade do Samba, localizada na região portuária do Rio de Janeiro. Até o ano anterior, a contagem dos votos era feita na Praça da Apoteose, na Marquês de Sapucaí. A mudança de local atendeu a um pedido do presidente da Liesa. Uma novidade deste ano foi que a escola vencedora desfilou na pista onde ficam os barracões.
Ao final do primeiro critério, Grande Rio, Vila Isabel e Viradouro saíram na frente e mantiveram suas posições até o quarto critério, Mestre-sala e porta-bandeira, quando Vila Isabel perdeu alguns décimos e caiu para o quinto lugar. A Imperatriz passou a perseguir as líderes com uma diferença de 3 décimos a menos. No quinto critério, Enredo, a Grande Rio perdeu 3 décimos e a Viradouro assumiu a liderança isolada pela primeira vez. Viradouro se distanciou 5 décimos da Grande Rio no critério Harmonia. No penúltimo critério, Samba-enredo, Viradouro abriu uma vantagem de 7 décimos para a Imperatriz, então em segundo lugar. Com uma nota 10 no terceiro item do último critério, Fantasias, a escola finalmente garantiu o troféu.
Samba campeão: Sob a liderança do carnavalesco Tarcísio Zanon, a escola de Niterói apresentou o enredo intitulado “Arroboboi, Dangbé”. O objetivo era destacar a força da mulher negra através de um culto africano à cobra sagrada vodum. O samba foi escolhido em setembro do ano anterior, composto por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinícius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno.
A história remonta ao século XVIII em Benin, na Costa ocidental da África, onde o culto surgiu durante uma batalha envolvendo as guerreiras Mino do reino Daomé. Elas foram iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, uma dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé. Também foi narrado como o culto chegou ao Brasil, nos terreiros da Bahia, sob a liderança da sacerdotisa daomeana Ludovina Pessoa, que disseminou a fé nos voduns pelo território brasileiro.
Confira o trecho inicial do samba:
“Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do vodun
Rastro que abençoa Agojiê
Reza pra renascer, toque de Adarrum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher”.